sexta-feira, 27 de julho de 2012

Sapatos de Luciana





A noite de sexta-feira é o momento onde o sentido horário regressa, a alma mostra outras faces e o luar se torna indecifrável.

Luciana sabia disso, seus sapatos também.

Com óculos de armação grossa preta, não sabia a noite quem era ela. 

Meiga com rosto de criança, discreta e misteriosa. Sua bolsa parecia uma caixa de pandora que carregava os mistérios da sua alma.

Seus sapatos a conheciam mais do que qualquer pessoa.


Em plena noite de sexta-feira a estrada a esperava, as veredas antigas a despertavam para o momento onde o presente e suas intuições se fundiam.

Pés de menina, sapatos de mulher. Nunca houve compasso em seus passos, mas qual a necessidade disso? Nem sempre trilhos retos e planejados levam a um final feliz.

A verdade é que hoje ela irá andar. Simplesmente andar. Já avisou em casa que chegará mais tarde. Será a noite em que ela vai permitir ser mulher.


Em si, ela tem um pouco de receio. Mas os seus sapatos já estão preparados.

Pela primeira vez ela usa um decote, seu colar para censurar, mas ao mesmo tempo hipnotizar. Sua cintura, ao andar, é um pêndulo que direciona qualquer libido.

A noite passa e poucos homens a perceberam. Esta é uma deficiência do sexo masculino, não ficar atento às ricas fábulas que rodeiam a alma feminina com a lua.


Eu também não reparei. Não reparei nos sapatos da Luciana.

Só foi possível percebê-los quando fiquei descalço. 

Pedro Henrique Curvelo
Julho de 2012

sexta-feira, 20 de julho de 2012

O LEÃO DE CADA DIA EU QUERO







Me Pai! Minhas lágrimas mostram a carência que minha alma tem de ti.

Sei que você mora em mim, através do teu Espírito. Mas o medo também.

O leão de cada dia te peço hoje. 


Ele me assusta, me amedronta, na minha alma ele quer ser rei.

Não peço que me livres do Leão, mas que me conceda o pão de cada dia, isto é, estrutura para que eu possa enfrenta-lo e com as minhas próprias mãos rasgar a sua boca. 


Pois, é matando que fará nascer um outro leão.


Sim! O Leão de cada dia eu quero.


Sim! O teu pão que me segura também.


No refletir percebo que o medo é a metamorfose para que um Leão venha nascer dentro de mim. 


A biologia da alma é diferente, a casca precisa quebrar para o nascer, por isso vejo o tremer.

Sim! O Leão de cada dia eu quero.


Sim! O teu pão que me segura também.


E que o meu interior encontre bonança em ti.


E que a tua paz guarde minha mente e meu coração.


Pedro Henrique Curvelo
Julho de 2012

terça-feira, 10 de julho de 2012

AO MESTRE COM CARINHO



   

   
   A tecnologia deve servir o homem. O ser humano em si é um ser produtor de conhecimento. Como fruto da sua gestação se encontra a tecnologia. Esta, deve tornar a vida mais prática e cooperar com a construção do conhecimento.


   No entanto, diante da evolução da inteligência artificial, não podemos permitir que o "filho coloque o pai em um asilo". Isto é, não podemos substituir a figurar física do professor por um arquétipo virtual do saber.



   Sou um grande fã da tecnologia, principalmente no que ela é capaz de cooperar com o conhecimento. Vejam! Eu uso a palavra "cooperar" e não "substituir".



   O mercado de cursos pela internet, seja através do computador da sua casa, seja através de um Tablet ou celular, que é denominado de M-Learning, é fantástico! Além do enriquecimento gráfico digital que facilita a didática, proporciona flexibilidade de horário e local. E isso vai desde um curso básico de inglês até um curso de pós-graduação. Só no meu celular tenho três aplicativos de cursos. Eu utilizo e gosto muito!



   O efeito colateral disso, infelizmente, é o distanciamento de algumas pessoas e instituições de ensino do professor. Tenho receio que a sociedade apenas o encare como uma espécie de "barriga de aluguel". Aquele que passa a letra para que o digital possa educar.



   O professor deve utilizar esses aplicativos e canais multimídias para o auxiliar. Mas, jamais abrir mão da dialética, do contato com o aluno, do ouvir, imaginar, debater, questionar o que foi estabelecido como certo, moral e ético. 



   O professor é o mentor que gera insumos para a evolução da consciência dos seus alunos.



   Caro leitor, a preservação da missão desse profissional depende de você e de mim. Nossa posição deve ser: Aceito a praticidade da tecnologia para me servir, mas jamais ela irá atrofiar o meu pensar ativo como ser humano.



Ao mestre com carinho.



Pedro Henrique Curvelo
São José dos Pinhais - PR
Julho de 2012

sexta-feira, 6 de julho de 2012

OS PÉS DE UMA MULHER





Os pés dela estavam descalços quando o viajante a conheceu. Sujos com as feridas de uma estrada tortuosa, cujas veredas antigas eram de lágrimas.

Quando ele a viu, se comoveu. Pensou que amigável seria sarar aquelas feridas e cobrir os pés com uma sandália.

Mas, depois de refletir, percebeu que os pés descalços eram resultados do seu espírito livre que regia a sua alma.


É lógico que deveriam ter feridas! Afinal, machucados não são também insumos que estruturam a maturidade de um ser?


Ela é livre! É mulher!


Ela, respeitando um processo "darwnístico", onde as chagas dos seus pés evoluíram e a metamorfose a enobreceu. 


No andar nessa mesma estrada, o espírito livre a coroou como princesa. 


Qualquer plebeu se apaixonaria com o adorno do seu jeito.


Ela livre! Ela mulher!


O ondular dos seus cabelos, a leveza do olhar, o gosto do andar, a exaltação do cuidar e compartilhar.


Ela livre! Ela mulher! 


A paixão do viajante gerou no coração um vinho que até Baco cobiçaria. Vinho de alegria, desejo, cuidado e amor.


No entanto, no caminho da confissão, a decepção.


Ela mulher, não olhou. Esse foi o fim.


Na vida sentimental a audição é pelo olhar. 


Por fim, o vinho foi despejado sobre os pés dela e não degustado.


Julho de 2012


Pedro Henrique Curvelo